SRI AUROBINDO
(1872 - 1950)
Poeta, pensador yogue e mestre espiritual indiano. Dotado de poderosa e
abrangente visão de síntese, integrou os modos de consciência do Oriente e do
Ocidente. Formulando os princípios de um Yoga Integral, anunciou e preparou, em
escala individual e coletiva, a manifestação iminente de um grau de
consciência até então imanifesto, a Supramente, ou a Consciência-Verdade, na
qual se integram dinamicamente o indivíduo e o todo, a Matéria transformada e o
Espírito.
Foi educado na Inglaterra, posteriormente tornando-se um líder
para a libertação da Índia do domínio Britânico. Começou a praticar o Yoga não
apenas como um trabalho espiritual, mas para obter uma força interior para uso
nos bastidores da cena política. Como progrediu muito rapidamente no Yoga,
decidiu deixar o movimento revolucionário para dedicar-se integralmente ao Yoga.
Seus textos não são o resultado de um trabalho intelectual,
mas relatos de suas próprias experiências espirituais. A partir destas,
formulou, entre outros, sua “Síntese do Yoga”, ou o “Yoga Integral” onde unifica
os princípios das diversas linhas de yoga em um todo harmônico e coerente.
Essencialmente, Aurobindo diz que a evolução ainda não terminou, que um novo
princípio de consciência deve emergir, a Supramente, e o Yoga é uma tomada de
consciência e um auxiliar conscientemente a Natureza em seu processo
evolucionário.
Notas Biográficas
The Open University
Man's Religious Quest
Units 6, 7 and 8:
Hindu Patterns of Liberation
The Open University Press, 1978, Manchester, England
Sri Aurobindo foi influenciado pela cultura
europeia (foi educado na
Inglaterra), escreveu, pelo menos parcialmente, para leitores europeus, e foi
profundamente preocupado com problemas modernos, como a independência da Índia, a
influência dos modos de pensamento ocidentais e cristãos, considerando que pelo
menos o sistema de valores ocidental parecia ser mais progressivo.
É considerado neo-hindu, isto é, apresenta continuidade com a
tradição hindu, mas ao mesmo tempo representa uma ruptura significativa com
aquela tradição.
Aurobindo representa uma síntese de opostos aparentemente
irreconciliáveis: é ao mesmo tempo ocidental e oriental, antigo e contemporâneo,
místico (disciplina espiritual) e infalivelmente prático (ativismo histórico).
Diferentemente de qualquer outro mestre indiano moderno, a
influência de Sri Aurobindo somente agora (1980) está começando a se propagar.
Nos anos vindouros, o significado de seus ensinamentos serão cada vez mais
difíceis de serem separados do significado dado a esses ensinamentos pelas
atividades de seus discípulos. Portanto, Sri Aurobindo não é somente um grande
mestre espiritual, mas ele pode ser apropriado por um movimento religioso ou um
culto em formação.
Sri Aurobindo meditou sobre o Gita durante o ano em que esteve
preso em Alipur (1908-1909) por envolvimento revolucionário contra o
imperialismo britânico na India. Posteriormente (1912-1921) escreveu comentários
sobre o Gita tentando mostrar que cada um dos yogas do Gita - Karma (ação
impessoal), Jnana (conhecimento do Si) e Bhakti (entrega ao Divino) - precisa
ser compreendido e praticado em uma estrutura maior e mais integral.
A peculiaridade do pensamento de Sri Aurobindo é ressaltada na
questão da Não Violência, característica de todas as formas de Yoga. Sri Aurobindo
sustenta que em algumas situações a violência pode ser necessária. Em 1942 foi o
único entre todos os mestres espirituais indianos que insistiu que era o dever
da Índia juntar-se à Inglaterra na luta contra os Nazistas, pois o processo
evolucionário poderia ser significativamente retardado por aquilo que ele chamava "os
poderes da escuridão".
Sri Aurobindo retirou-se das atividades políticas em 1910 e
dedicou todas as suas energias à disciplina do conhecimento espiritual. Durante
seus primeiros anos em Pondicherry ele afirmou que estava suficientemente
avançado em técnicas de meditação para ser capaz de pôr sua mente em contato com
fontes mais profundas de conhecimento ou verdade. Ele também meditou sobre os
ensinamentos dos Vedas, Upanishads e Bhagavad Gita. Entre 1914 e 1921, a
experiência e insights obtidos durante os quatro anos anteriores resultaram em
mais de 4000 páginas de escritos filosóficos e espirituais (A Vida Divina, A
Síntese do Yoga, Ensaios sobre o Gita, O Ciclo Humano, O Ideal da Unidade
Humana, Segredos do Veda). O tratado espiritual "A Vida Divina" (1000 páginas)
contém suas teorias originais sobre o Conhecimento, Realidade, Si, e os Estágios da
Evolução. Todas essas teorias foram influenciadas por sua experiência no Yoga.
Sri Aurobindo explicou em uma carta a um discípulo que nunca foi
um filósofo, mas aquilo era resultado de sua prática de Yoga, ele apenas
expressava, em um nível intelectual, os insights que ele tinha atingido pela
experiência espiritual. É então importante compreender que o conteúdo da
filosofia de Aurobindo é baseado mais essencialmente em sua experiência
espiritual que em seu estudo das filosofias ocidentais e do pensamento
filosófico indiano.
Os ensinamentos de Sri Aurobindo partem daqueles dos antigos
sábios da Índia: que por detrás das aparências do universo existe a realidade de
um ser e consciência, um Si de todas as coisas, um e eterno.
A matéria pode evoluir em planta, animal e vida humana somente
porque foi impulsionada por uma compulsão interior para assim o fazer. Esta
mesma compulsão está presentemente impulsionando a humanidade a aspirar em
direção à Supramente.
O sistema de Sri Aurobindo consiste de muitas idéias
intimamente relacionadas, cada uma das quais é suportada pela coerência interna
do próprio sistema, e externamente pela correspondência do sistema com a
experiência histórica, filosófica e espiritual.
Em 1926, Sri Aurobindo experienciou em seu próprio corpo uma força
espiritual que ele chamou Sobremente (Overmind), um nível de poder espiritual,
ou consciência, acima da intuição mas abaixo do poder transformativo decisivo
que ele associou a seu conceito de Supramente.
Sri Aurobindo escreveu em 1934: "A consciência da Mãe
(Mira Alfassa) e a
minha são a mesma, a Consciência Divina una em dois, porque isso é necessário
para o jogo. Nada pode ser feito sem seu conhecimento e força, sem sua
consciência – se alguém sente realmente sua (d'A Mãe) consciência, deveria saber
que eu estou lá por detrás e se ele sente a minha, isso é o mesmo com a dela.
Sri Aurobindo declara: "Nossa meta não é ... fundar uma
religião ou uma escola de filosofia ou uma escola de Yoga, mas criar uma base e
um caminho que irão trazer para baixo uma verdade maior além da mente, mas não
inacessível à alma e consciência humanas".
E também: O caminho de Yoga seguido aqui tem um propósito
diferente dos outros – pois sua meta não é apenas emergir da ordinária e
ignorante consciência-de-mundo para dentro da consciência divina, mas trazer o
poder supramental daquela consciência divina para baixo, para a ignorância da
mente, vida e corpo, transformá-los, manifestar o Divino aqui e criar uma vida
divina na matéria.
Como Sri Aurobindo notou em uma de suas cartas, seu yoga é um
yoga extremamente difícil; para muitos ou para a maioria parecerá impossível. Em
vista do necessário comprometimento espiritual esperado dos discípulos, nem Sri
aurobindo nem A Mãe, nem os próprios discípulos, tentaram converter pessoas
buscando novos discípulos, e geralmente tem evitado um perfil altamente público
adotado por muitos dos grupos religiosos indianos proeminentes no ocidente.
Sri Aurobindo alertou: "Um movimento, no caso de um trabalho
como o meu, significa a fundação de uma escola ou seita ou algum outro
condenável non-sense. Significa que centenas de milhares de pessoas sem nenhum
valor para o propósito se aproximariam e corromperiam o trabalho ou o reduziriam
a uma pomposa farsa, da qual a Verdade que estava descendo, retiraria-se para
segredo e silêncio. É isso o que tem acontecido às religiões, e essa é a razão
de seu fracasso."