Leituras de Rolf

Série de Leituras de Rolf sobre “A Vida Divina”, em 1987 – em formato MP3

Resumos

Ensinamentos e Método de Sadhana de Sri Aurobindo

 Sri Aurobindo Birth Centenary Library, Vol. 26, “Sri Aurobindo on Himself”, – pp. 95-97.

O ensinamento de Sri Aurobindo parte daquele dos antigos sábios da Índia de que, por detrás das aparências do universo existe a Realidade de um Ser, Consciência, um Si de todas as coisas, uno e eterno. Todos os seres são unidos naquele Si e Espírito Uno, mas divididos por uma certa separatividade de Consciência, uma ignorância de seu verdadeiro Si e Realidade na mente, vida e corpo. É possível, por uma certa disciplina psicológica, remover esse véu de consciência separativa e tornar-se consciente do verdadeiro Si, a Divindade dentro de nós e dentro de tudo.

 O ensinamento de Sri Aurobindo coloca que esse Ser e Consciência Uno está involuído aqui na Matéria. Evolução é o método pelo qual ele liberta a si próprio; consciência surge naquilo que parece ser inconsciente, e uma vez tendo surgido, é auto-impelida a crescer mais e mais alto e ao mesmo tempo a ampliar-se e desenvolver-se em direção a uma maior e maior perfeição. Vida é o primeiro passo dessa libertação de consciência; mente é o segundo; mas a evolução não termina com a mente, ela aguarda a libertação em algo maior, uma consciência que é espiritual e supramental. O próximo passo da evolução deve ser em direção ao desenvolvimento da Supramente e Espírito como o poder dominante no ser consciente. Pois somente então a libertada Divindade involuída nas coisas irá libertar a si própria inteiramente e tornar possível para a vida manifestar a perfeição.

 Mas enquanto os passos anteriores na evolução foram dados pela Natureza sem uma vontade consciente na vida vegetal e animal, no homem a Natureza torna-se capaz de evoluir por uma vontade consciente no instrumento. Não é, contudo, pela vontade mental no homem que isso pode ser inteiramente feito, pois a mente vai somente até um certo ponto e após isso, pode apenas mover-se em círculos. Uma conversão deve ser feita, uma mudança de consciência pela qual a mente tem que transformar-se em um mais alto princípio. Esse método deve ser encontrado através da antiga disciplina e prática psicológica do Yoga. No passado, foi tentado por um retirar-se do mundo e um desaparecer nas alturas do Si ou Espírito. Sri Aurobindo ensina que é possível uma descida do princípio mais alto, que irá não meramente libertar o Si espiritual para fora do mundo, mas libertá-lo no mundo, substituir a ignorância da mente ou seu conhecimento muito limitado por uma Consciência-Verdade supramental que irá ser um instrumento do Si interior e tornar possível para o ser humano encontrar a si próprio tanto dinamicamente quanto interiormente e crescer a partir de sua humanidade ainda animal para uma raça mais divina. A disciplina psicológica do Yoga pode ser utilizada para esse fim pelo abrir de todas as partes do ser para uma conversão ou transformação através da descida e operação do mais alto princípio supramental ainda encoberto.

 Isso, contudo, não pode ser feito de uma vez ou em um curto tempo, ou por qualquer transformação rápida ou miraculosa. Muitos passos devem ser dados pelo buscador antes que a descida supramental seja possível. O Homem vive, na maior parte, em sua mente, vida e corpo de superfície, mas existe um ser interior dentro dele com maiores possibilidades para as quais ele tem que acordar – pois é apenas uma influência muito restrita desse ser interior que ele recebe agora e que o impulsiona para um constante perseguir de uma maior beleza, harmonia, poder e conhecimento. O primeiro processo do Yoga é, portanto, abrir as extensões desse ser interior e viver de dentro para fora, governando sua vida exterior por uma luz e força interiores. Assim fazendo, ele descobre em si próprio sua verdadeira alma, que não é essa mistura exterior de elementos mentais, vitais e físicos, mas algo da Realidade por detrás deles, uma fagulha do Fogo Divino uno. Ele tem que aprender a viver em sua alma e purificar e orientar o restante da natureza pelo dirigi-los à Verdade. Pode então, posteriormente, seguir-se uma abertura em direção ao alto e uma descida de um princípio mais alto do Ser. Mas, mesmo então, não é de uma vez a plena Luz e Força supramentais. Pois existem diversas extensões de consciência entre a mente humana ordinária e a Consciência-Verdade supramental. Essas sucessivas extensões devem ser abertas e seu poder trazido para a mente, vida e corpo. Apenas então pode o pleno poder da Consciência-Verdade atuar na natureza. O processo dessa auto-disciplina ou Sadhana é portanto longo e difícil, mas mesmo um pouco disso é um grande ganho porque torna a libertação e perfeição últimas mais possível.

 Existem muitas coisas pertencentes aos antigos sistemas que são necessárias no caminho – uma abertura da mente a uma maior amplitude e ao sentido do Si e Infinito, um emergir no que tem sido chamado a consciência cósmica, o domínio dos desejos e paixões; um ascetismo exterior não é essencial, mas a conquista do desejo e apego e um controle sobre o corpo e suas carências, ânsias e instintos são indispensáveis. Existe uma combinação de princípios dos antigos sistemas, o caminho do conhecimento através do discernimento mental entre Realidade e aparência, o caminho da devoção do coração, amor e entrega e o caminho dos trabalhos, voltando a vontade para longe dos motivos de auto-interesse para a Verdade e Serviço de uma Realidade maior que o ego. Pois todo o ser deve ser treinado para que possa responder e ser transformado, quando for possível para aquela Luz e Força Maior atuar na natureza.

 Nessa disciplina, a inspiração do Mestre, e em estágios difíceis, seu controle e presença são indispensáveis – pois seria impossível de outra maneira passar por isso sem muito tropeço e erro o que poderia impedir qualquer chance de sucesso. O Mestre é aquele que elevou-se a uma consciência e ser mais altos, e ele é freqüentemente considerado como uma manifestação ou representante deles. Ele auxilia não apenas por seu ensinamento e mais ainda por sua influência e exemplo, mas por um poder de comunicar sua própria experiência a outros.

 Esse é o ensinamento e método de prática de Sri Aurobindo. Não é seu objetivo desenvolver qualquer nova religião – pois qualquer dessas coisas poderia levar a um afastamento de seu propósito central. A meta única de seu Yoga é um auto-desenvolvimento interior pelo qual cada um que o segue pode, no tempo apropriado, descobrir o Si Uno em tudo e evoluir uma consciência mais alta que a mental, uma consciência espiritual e supramental que irá transformar e divinizar a natureza humana.

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