CASA Sri Aurobindo - Núcleo para o Livre Desenvolvimento da Consciência

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ENCONTROS CASA 2007

A Evolução não é um caminho tortuoso para se retornar, um pouco mortificado, ao ponto de partida: é, ao contrário, para ensinar à criação total a alegria de ser, a beleza de ser, a grandeza de ser, e o desenvolvimento perpétuo, perpetuamente progressivo desta alegria, desta beleza, desta grandeza. Então, tudo tem um sentido.
Mira Alfassa

Entrevista com Ricardo de Oliveira Bernardo

Ricardo de Oliveira Bernardo é artista plástico e diretor da Casa Sri Aurobindo – Núcleo para o Livre Desenvolvimento da Consciência. Nascido em Antônio Carlos-MG em 1955, considera seu encontro com Rolf Gelewski [1930-1988, dançarino, coreógrafo e professor de dança alemão naturalizado brasileiro, fundador da Casa Sri Aurobindo], ocorrido em 1979, de capital importância para seu desenvolvimento como artista e como pessoa. Foi seu primeiro contato com a proposta desenvolvida pela Casa: a expressão criativa como caminho para a descoberta e o desenvolvimento das dimensões interiores da pessoa.

Qual é a proposta da oficina “A Aventura da Consciência e da Alegria”?
Esta oficina constitui mais um passo numa série que se iniciou com Rolf Gelewski em 1975. Nestes Encontros, a Casa segue uma linha de trabalho bastante característica, embora sempre renovada: utilizando a linguagem da arte (música, poesia, artes plásticas, mas principalmente a dança espontânea) como recurso principal, busca propiciar ao participante um encontro renovado consigo mesmo e com o outro. A arte constitui um meio privilegiado para este (re)encontro com a interioridade, porém cumpre ressaltar que a expressão criativa não é privilégio do chamado “artista”: ela é atributo inalienável de todo ser humano, sem exceção. Na visão de Sri Aurobindo [1872-1950, poeta, yogue e pensador indiano que realizou a síntese entre os modos de consciência do Oriente e do Ocidente], cada pessoa é a manifestação de uma centelha divina cuja natureza e essência é alegria e criatividade, e o mundo e a vida são o cenário e campo escolhidos para esta manifestação.

O que vocês pretendem trabalhar?
Este será um encontro basicamente vivencial, em que, em 36 horas de trabalho intensivo com elementos de ritmo, música, percepção auditiva e visual, movimento, concentração/interiorização e reflexão, o participante será convidado ao exercício constante, e em todos os níveis, da atenção e da sensibilidade, já que estes são pressupostos básicos para uma presença consciente e responsável na vida e no mundo. Além de mim, serão responsáveis pela condução desta oficina Rosane Mello, psicóloga e musicoterapeuta; Lurdinha Maciel, arteterapeuta; e Paulo Baeta, dançarino, professor de dança e psicoterapeuta junguiano.

Ter consciência pode nos levar a…
Consciência é um atributo básico do ser; como tal, abrange todos os níveis e não somente o mental e é muito mais do que o “mentor” moral que usualmente chamamos “consciência”. Crescer em consciência, pois, é crescer em compreensão do porquê e como de nós mesmos e do mundo; em termos práticos, cotidianos, leva-nos a uma postura de crescente consideração, zelo, cuidado – compaixão, para com tudo e todos.

Qual é o seu entendimento sobre a alegria?
Baseamo-nos na percepção de Sri Aurobindo, de que Existência, Consciência e Alegria (no sânscrito, Sat-Chit-Ananda) constituem a própria substância de que é feita a realidade. Nesta percepção, Ananda/Alegria é, como a consciência, um atributo do ser, vasto e profundo como um oceano, do qual a alegria que reconhecemos como tal não é senão a crista de uma onda na superfície…

Como ela pode ser resgatada no dia-a-dia?
Segundo a mesma percepção, nós somos alegria, e a questão de fato é como resgatar esta compreensão e vivência de nós mesmos. Em nossa experiência, a alegria é o oposto, fugidio, de tristeza e pesar; oscilamos, como sobre ondas, entre estes opostos. Ora, segundo Sri Aurobindo, Ananda aí está, no fundamento de tudo, como um mar onipresente; contudo, em nossa desconexão da essência deixamos de perceber como sendo alegria o calmo contentamento de ser que, discreto e silencioso, permeia e sustenta nossa existência, e buscamos desesperadamente por um tesouro que desde sempre já é, ocultamente, nosso – mas o fato de buscarmos a todo custo, mesmo que de forma artificialmente induzida, por alegria e bem-estar é já, talvez, o reconhecimento inconsciente de que esta é nossa real natureza, e não tristeza e pesar. A questão, então, é nos permitimos o mínimo de aquietamento interior e atenção que possibilitará a descoberta disto. Neste contexto, gostaria de citar Mira Alfassa, A Mãe, continuadora da obra de Sri Aurobindo:

“Este deleite, este maravilhoso riso que dissolve toda escuridão, todas as penas, todo sofrimento! Basta entrar em si mesmo fundo o suficiente para encontrar o sol interior e deixá-lo banhar você, e então tudo se torna uma cascata de harmonia, luminosidade, um riso solar que não permite, de maneira alguma, qualquer sombra ou pesar. Sem dúvida, se for capaz de olhar a partir deste lugar, você verá, mesmo na maior das tristezas, na maior dor física a sua irrealidade, a irrealidade da dificuldade, a irrealidade da tristeza, a irrealidade da dor – tudo é somente uma alegre e luminosa vibração. Este é, no fundo, o mais poderoso meio de dissolver as dificuldades, superando as tristezas e removendo as dores. Você foi acostumado a considerar o corpo e tudo o que ele sente como extremamente concreto, positivo; mas é a mesma coisa, é simplesmente porque nós não aprendemos, não adquirimos o hábito de ver nosso corpo como algo fluido, plástico, ilimitado, maleável. Não aprendemos a introduzir nele este riso maravilhoso que dissolve todas as escuridões, todas as dificuldades, todas as discordâncias, toda a desarmonia, tudo o que sofre, chora e se lamenta… E este Sol, este Sol do riso divino está no centro exato de tudo, é a verdade de tudo. O que é necessário é aprender a vê-lo, senti-lo, vivê-lo.”

O homem moderno é um ser fragmentado. A globalização, ao mesmo tempo em que possibilitou a obtenção de informações de todas as partes do mundo praticamente em tempo real, deixa o homem fragmentado diante de tanta carga mental e sensorial. O que fazer para integrarmos a nossa essência, o nosso eu verdadeiro, ao ser que busca conviver com tanta informação, violência?
Sri Aurobindo nos diz que a Terra, presentemente, vive as dores do parto de um novo ser, uma nova consciência; sua manifestação, que parece aproximar-se celeremente, traz consigo a possibilidade de uma integração humana nunca antes vivida – aí incluída, afinal, a realização daquilo que, em recente entrevista, Ariano Suassuna classificou como um sonho ainda não realizado: a integração de liberdade humana com justiça social. Nesta visão, bem pode ser que este movimento complexo, em muitos aspectos confuso e contraditório que é a presente forma de globalização seja um prenúncio desajeitado – como um reflexo num espelho deformado – desta grande possibilidade. Sabemos que uma planta, uma árvore só floresce e frutifica se estiver devidamente enraizada. Individual e coletivamente, perdemos a conexão com as raízes do ser; é tarefa urgente nossa, então, redescobrir esta dimensão, que possivelmente nos permitirá reequilibrar e reordenar, recolocando as coisas em seus lugares. Somente então coisas que ameaçam agora nosso equilíbrio – como o sufocante excesso de informação e o impulso de sobrevivência, conquista e agressividade em expressão desordenada e desequilibrada que resulta na violência que aí está, permeando todos os aspectos da existência moderna – poderiam ser transformadas em meios, instrumentos para a plena expressão das potencialidades humanas.

A sociedade moderna está decadente ou ainda há esperança?
Se a visão de Sri Aurobindo estiver correta – e acreditamos firmemente que esteja –, o que a Terra vive é uma crise evolucionária, de crescimento; como toda crise, esta traz em si desafios tremendos, mas também possibilidades correspondentes. Evolução é aventura: na expressão de Sri Aurobindo, uma “Aventura de Consciência e Alegria”. Como em toda aventura, os resultados dependerão do desempenho daqueles que nela estão envolvidos, como protagonistas ou coadjuvantes. Nesta aventura, como sabiamente vem advertindo Leonardo Boff, entre outros, nós seres humanos somos coadjuvantes importantes, mas não o protagonista: este é a Natureza, a Vida ou o Divino, conforme quisermos chamá-lo. Da sabedoria ou estupidez de nossas escolhas dependerá podermos ou não continuar como participantes nesta difícil, mas grande e bela aventura.

Por que as pessoas nunca se sentem felizes? Nutridas?
Como toda questão humana de base, esta é uma questão complexa, que não admite respostas simples. Contudo, diríamos que uma das razões para esta eterna insatisfação é que nos equivocamos ao buscar nutrição nos fastfoods da superficialidade; este tipo de alimento, sabemos, traz satisfação momentânea, mas não nutrição verdadeira, duradoura – isto, quando não nos adoece. É-nos sempre lembrado, contudo, de diferentes maneiras pelas grandes consciências que por aqui passam, que a dimensão do real contentamento e felicidade já está em nós (o Reino de Deus em nós de que nos fala Jesus Cristo): nosso desafio é abrir mão de nossas identificações e preferências para buscá-la, fundo em nós. Neste sentido, merece toda a nossa reflexão uma imagem oferecida por Krishnamurti: na Ásia, segundo ele, utilizam, como armadilhas para capturar macacos, cumbucas onde colocam bananas. O macaco introduz sua mão e agarra uma banana. Só que a boca da cumbuca é estreita, e ele não consegue retirar sua mão segurando a banana; para libertar-se, bastaria ao macaco soltar a banana que agarrou, só que o apelo da banana é forte demais para que ele a solte – ele de fato não a solta e, assim, é capturado…

A Oficina “A Aventura da Consciência e da Alegria” tem sua abertura nesta quarta-feira, dia 24, às 20h00, e se estende até o domingo, dia 28, às 14h00. O local é o Asilo São Luís, estrada de Caeté, próximo à Serra da Piedade (as atividades incluem uma caminhada à serra). Informações sobre como inscrever-se e participar: (31) 3221-8004 ou 3223-0131 e, após as 12h00 do dia 24, (31) 3641-2626. Você pode, ainda, acessar: http://geocities.yahoo.com.br/casa_sri_aurobindo